Epífrase


Eu precisei de ti
Não pude gritar
Tinhas os ouvidos ocupados
Por sussurros outros

Eu precisei de ti
Não pude pedir colo
Tinhas os braços
Envolvidos com corpo outro

Foram tantas as noites...
A solidão me esfacelando
Aos poucos e

Eu querendo brigar
Querendo bater
Querendo matar
Até também morrer

Mas tu estavas ocupado
Fingindo ciúmes
Contando vantagens
Sendo aquecido
Por lençóis imundos
De outros linhos

Nada mais é conjugado
A primeira pessoa do plural
Não mais existe nas canções que ecoo

Tudo derrete
À tua espera
Tudo se decompõe
Quando não voltas
O céu não tece mais estrelas
Tudo é vazio

Nada mais é conjugado
Ou revelado com honestidade
Nada mais está inteiro

(E)(u)...

Desesperadamente:
Não preciso mais de ti
Ainda resta monóxido de carbono e

Tudo
Tudo
Lentamente volta ao normal
A lobotomia não concedida anteriormente
É ensaiada com extrema dedicação:
A cada dia desembrulho da memória
Tua ausência
Garrafa de conhaque e aspirinas
Postas ao lado da cama

Nada mais gira em torno
Da tua beleza quase que sagrada
Teu amor é só mais um prato de comida podre
Dei garfadas
Acabei envenenada

Recorro ao gás
e
Tudo
Tudo
Tudo
Lentamente conclui-se
Conforme desejo (t)(e)(u)

meu
.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Fabíola!

    Eu venho aqui para lhe deixar um comentário, e dizer com todo o carinho o quanto te acho uma maravilhosa poetisa!
    Muitas pessoas não gostam muito dessa palavra poetisa para se referir às poetas mulheres, que há de se chamar todos de poetas, mas eu gosto tanto da sonoridade da palavra poetisa, que por si só a palavra acaba sendo um poema.
    Só sei que és linda e fiquei muito feliz de ver sua inspiração e sua busca para um blog, eu amei, e o nome é lindo demais, papoulas de outubro! *__*

    Grande Beijo!

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